quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Via Láctea

A noite era quente e o céu nublado. A janela semi-aberta trazia rajadas de vento reconfortantes, que aliviavam discretamente a tensão que a corroía por dentro. Sentimentos tensionam a alma, o cérebro, e tudo mais que tiverem direito.

Já tomara um litro de café, já comera tantos tipos de comida, já falara de tantos assuntos com tantas pessoas, mas nada era capaz de lhe tirar a atenção por um minuto sequer daquilo que, há tempos e por variados motivos, prendia nas nuvens seus pensamentos.

Pegou, mais uma vez, uma folha de papel em branco e uma caneta qualquer. Há dias que tentava, e a cada dia queria dizer algo diverso do que pensara no dia anterior porque todo dia concluía alguma coisa diferente e queria muito eternizar este pensamento no instante em que fora pensado. Impossível. Tem coisas que não servem pra ser ditas, mas sim sentidas. Há tempos que o sentir se tornara absoluto, e não admitia ser desperdiçado para fora, apesar de ela querer muito compartilhar tudo que sentia, porque cada sentimento, cada pensamento trazia consigo uma beleza simples e plena e única, mas ao escrever, as palavras cortam o real sentido e densidade de tudo que se sente.

Apesar disso tudo, hoje sentia que era preciso falar. Tem coisas que já não cabiam dentro do peito. Assim começou a escrever,  na intenção de dizer a ele tudo que pensava, e que ele, por não morar na cabeça dela, não fazia idéia. Pensou em dividir com ele essa imensidão de coisas que tinha lá dentro. Queria lhe dizer que vê-lo sofrendo dói bem mais do que se o sofrimento fosse só dela. Que gostaria de abraçá-lo tão forte que ele nunca mais poderia dizer que está sozinho nem que ninguém se importa, porque a força e o aconchego dos braços dela envolvendo seu corpo o convenceriam disso. Queria lhe dizer que ela sente cada lágrima que escorre dos olhos dele escorrendo pelo rosto dela também, e que de longe ela as finge enxugar na esperança vã de que lá, onde ele estiver, as suas lágrimas estejam sendo secadas. Quis dizer, em algumas palavras, que a cada coisa simples do cotidiano que ela executava, fechava os olhos e mandava mensagens telepáticas na esperança de que isso ajudasse ele a ter a força necessária pra também realizar tal tarefa, por menor que seja. Queria muito dizer a ele que ela sabe como dói. E que queria a dor dele pra ela, porque é melhor sofrer o pior dos castigos do que ver alguém importante pra gente sofrer. Desejava que ele soubesse que ela sente muito por tudo que ele está passando, mas que ela tem certeza de que isso é temporário e que os dias vão voltar a ser azuis em breve, muito breve. Ela tinha certeza disso, e como queria que ele conseguisse acreditar nisso também. Queria dizer a ele que ela, mesmo estando longe, jamais o abandona em pensamento. E que, estando perto, jamais o deixará, nem física nem emocionalmente, porque a vida não teria mais porquê de existir se não fosse pra ver o sorriso dele. Como ela queria que ele soubesse o valor que ele tem. E que é forte o suficiente pra admitir que tem fraquezas. E também que o admira muito, cada dia mais, porque a cada dia que passa ela vê o ser humano que ele é. Humano. Triste e esperançosamente humano. Quis muito fazer ele entender que, não importa o que se passe, ela estará lá, do lado dele. Que ela queria estar fazendo um chá pra ele nesse momento, e lhe fazendo um cafuné no cabelo. Que lhe ajudaria a organizar a casa, e até trocaria de lençol, pra que ele pudesse se sentir um pouco melhor deitado na cama. Que traria seus discos preferidos pra eles escutarem juntos. Que abriria as cortinas, mesmo ele não querendo, e que deixaria o sol entrar naquele quarto tão cinzento. Traria suco de maçã com canudinho e leria em voz alta um trecho de livro ou poema qualquer pra preencher o vazio do dia. Queria que ele soubesse que não há quase nada que ela não fizesse pra fazê-lo se sentir melhor. Que ele era um presente pra ela, e que ela queria ser também um presente pra ele. Queria que ele soubesse o bem que faz a ela simplesmente por existir. Queria que ele nunca duvidasse que só com a presença dele é que seus dias conseguem ficar vivíveis. Que se os poetas se inspiram nas estrelas, isso pouco importa; a inspiração dela, era ele.

Queria dizer tantas coisas, e se perdia tanto nos pensamentos, que desistira. Não adianta. Palavras jamais traduzirão o que realmente sente. Desistiu de tentar traduzir-se pra ele com palavras. Ao invés de escrever páginas, rasgou um cantinho da folha que segurava, escreveu uma pequena frase e colocou em cima das coisas dele. No dia seguinte, com sorte, ele leria aquele bilhete; talvez desse um sorrisinho amarelo ao ler e não desse muita importância ao que lia. E ele continuaria a não fazer idéia de tudo que aquele “eu te amo” escrito num pedacinho rasgado de papel significava pra ela.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

saber viver?



“Decepção não mata; ensina a viver”.

Essa é uma das frases, que possivelmente, você mais vai ouvir na vida casoseja do tipo que sempre se envolve com as pessoas erradas nas horas erradas e tenha a sorte de ter algumas poucas pessoas ao seu redor preocupadas em te consolar, ainda que com uma frase vazia dessas.

Pois bem, pra começo de conversa eu já acho um disparate achar que tudo que é ruim ensina alguma coisa de bom ou de útil. Pelo que eu vejo, é bem pelo contrário: traumatizam, e traumatizam pra caralho. Através desse pensamento vazio, parece que é só por intermédio da frustração que a gente consegue aprender alguma coisa pro futuro. Esse reforço negativo, essa teoria da punição, em nada me agrada. E não é porque estou em negação; eu realmente acho isso uma baboseira.

Se assim fosse verdade, não veríamos várias pessoas por aí, figurativamente, batendo a cabeça na mesma parede por tantos e tantos anos. Insistindo nos mesmos erros, nas memas frustrações, tendo repetidamente as mesmas decepções. Se fosse uma simples questão de aprendizado, erros não se repetiriam.

Acho que isso passa pela necessidade de que tudo que vem de fora satisfaça tuas necessidades, as quais são criadas e existentes somente na tua cabeça e que talvez nem te sejam tão necessárias assim. Digo que nem sempre o que está ao redor está errado; quem sabe o errado seja você em querer que o resto do mundo seja do jeito que você queria que fosse.

Não extrapolo estas idéias para o âmbito político, econômico, social. Se trata aqui dos fenômenos interpessoais e relativizadamente pós-modernos que relacionamentos intra e inter espécie aparentam ter, e sobre cujas bases e origens, em sua últimíssima instância, não irei nem citar, pois sei que os desejos e medos são frutos do pensamento vigente de uma determinada época, a qual embasa e é a responsável pela amarga infelicidade cotidiana. Não entrarei neste mérito, é uma discussão difícil e quero aqui apenas discutir sentimentos, talvez de maneira vazia e inútil. Problema meu. Dito isto, podemos continuar com a fenomenologia das frustrações e dos sorrisos enferrujados.

Projeções, projeções. Projetar no que está fora todos os desejos e medos  que estão aqui dentro, e ainda esperar ser correspondido – ou melhor - obedecido. Como isso pode dar certo? Mesmo porque, desejos e medos, em sua maioria, quando não produtos do pensar, analisar e repensar, surgem em nós pelos mais múltiplos e variados motivos errados.

Eu me frustro pra caramba. Acho que, desde sempre, decepções e frustrações me consumiram horas e horas de vida, litros e litros de água dos olhos, noites e noites em claro, dias e dias na escuridão. Sinto cada decepção tão vívidamente como se fosse o suspiro derradeiro, o último segundo de vida. Sinto essa dor insuportável em cada detalhe, por mínimo que seja, com todos os seus tons. Sinto lenta, mas plenamente, cada pedaço de sordidez que o “decepcionar-se” pode proporcionar. Acho que sou muito dramática, exigente  e perfeccionista, ou quem sabe isso se resuma na palavra extremista. Ou talvez, mimada. Sei que vivo cada decepção como se fosse a primeira, e a última, da vida. Sinto um vazio, um desespero e uma desesperança incabíveis dentro de mim, mesmo quando o motivo da decepção já é repetido. E é claro que, a cada frustração que se sucede, mais muros e labirintos eu crio em volta desse lugar que tenho aqui dentro chamado “afeto”, pra que ele fique cada vez menos acessível, cada vez mais intocado, e eu portanto, cada vez menos sofredora. E isso não é bom. Isso não é viver, penso que seja muito pelo contrário; é deixar de viver porque se perde tanto tempo da vida se preocupando com o que virá nela, que se esquece de criar e inventar o hoje. Se não existe hoje, o amanhã deixa de ser uma incógnita para virar a certeza de um vácuo.

Constante tensão à espera da próxima desgraça, constante posição de ataque através de uma defesa inesgotável e incansável. Isso cansa. Consome energia, consome tempo, consome vida. Sinto-me a cada dia que passa, sendo corroída por esse dispêndio cruel de energia na vã esperança de me auto-proteger de viver, e por isso nada sobra – nem energia, nem foco, nem vontade – para ser gasto com  coisas construtivas. E nada vai pra frente. E você se frustra mais, e se fecha mais. E mais energia é consumida para viver em negação, raiva, tristeza e uma suposta indiferença. E mais vida é jogada fora.

Pra dar um basta nisso, há um caminho complexo a ser percorrido, que engloba enfrentar todos os medos, quebrar todos os muros, vencer todos os labirintos, caçar todos os fantasmas, entrar em todos os pântanos, ou seja, lutar contra si mesmo para tirar toda essa proteção criada meticulosamente ao redor daquilo que você tanto preza em proteger, porque dói quando utilizado incorretamente, que é o afeto. Afeiçoar-se a alguém exige tantos pré-requisitos, tanta confiança, tanta entrega, que o medo vence e o isola. O condena a viver na solidão; justo ele, que foi feito para ser compartilhado.

Com açúcar e com afeto, aos poucos o amargo do cotidiano vai sendo substituído pelo suave sabor dos dias de fato vividos, e não apenas existentes. Viver implica em muito mais do que ter medo das próximas horas que virão.

Mas, ao que parece, as exigências que criamos e impomos a tudo que está ao redor do nosso eixo não nos permitem enxergar que talvez toda essa enorme lista de defeitos que você acha no resto do mundo não passe de medo, pois se se permitir identificar-se e apreciar qualquer coisa externa, deixará ela entrar e te tocar, e ser parte de ti. E essa entrega fica impossível quando tudo que conseguimos ter em mente são as reminiscências das decepções passadas, com toda sua carga de dor, de amargura, desespero e principalmente, de solidão.

Então não, decepção não ensina a viver, mas sim faz com que limites sejam impostos às vontades, aos planos e à esperança de se poder ter uma vida diferente, sem medo, sem medo de ter medo, sem rugas e veias entupidas de preocupação.

Decepção e frustração ensinam a viver em caixas, e quer saber? Cansei das minhas.
 

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Migalhas


Migalhas.

Do lado de fora da casa, no jardim, o cão se encolhia por causa do vento e da baixa temperatura na grama levemente gélida. Olhava fixamente o portão, o asfalto, o muro do outro lado da rua, a casa abandonada em frente à casa em que morava. Olhava o céu, sem estrelas, olhava a ausência da lua. Nenhum estranho passava na rua, para que pudesse latir e se sentir um cão vivo; nenhum conhecido saía de dentro da casa pra lhe afagar as orelhas, dizer-lhe uma palavra, muito menos brincar com ele. Sabia que estava vivo, se sentia vivo, mas por quanto tempo? Que diferença fazia? Sabia que estava ali a morar de favor, e que não era bem quisto. Sabia que a dona da casa se incomodava com sua presença. apesar de não ser rude com ele de forma alguma. Até demonstrava algum afeto de vez em quando. Pena. É claro que o pseudo-afeto que demonstrava era pura e simplesmente pena, de um ser cujo dono mal lembrava de sua existência. Vinha à casa na maioria dos dias, lhe passava a mão na cabeça, e só. Eram os únicos momentos do dia em que ele conseguia se sentir vivo. As outras pessoas passavam por ele, indiferentes, como se não existisse, como se quisessem que ele não existisse. E é por isso que fitava tanto a rua, o portão e qualquer sinal de movimento pra lá da calçada. Esperava a chegada daquele que tinha lhe deixado ali, e que apesar disso, sabia ele que era o único que ainda se lembrava e ainda se importava com sua existência. Todo dia, e toda noite, sentava e esperava pacientemente pela atenção que tanto sonhava, enquanto fitava as grades do portão. Sentava à espera das sagradas migalhas que o lembravam, ainda que porcamente, de que estava vivo.


Entre o lado de fora e o lado de dentro da casa, estava a lavanderia. Uma das partes mais solitárias que qualquer casa pode ter. Só vão lá para realizar alguma tarefa chata, e com toda a pressa do mundo. Ninguém passa algum tempo na lavanderia porque quer, e ele sabia bem disso. Na parede, de frente para a pia, estava sua gaiola. Solitário, não podia nem olhar o céu sem estrelas, e nem a casa abandonada do outro lado da rua. Tudo que ouvia eram os pingos que caiam tristemente da torneira, e que quebravam a monotonia da noite. Há dias se sentia assim, só. Desde que eu amigo morrera, nunca mais teve afeto ou atenção de quem quer que fosse. Eram em dois naquela gaiola, e lembra-se de que juntos, todo dia, reclamavam de não serem livres, de não poderem estar pelo mundo afora desbravando cores e flores. Agora, se sentia ainda pior do que naqueles dias, porque pelo menos tinha alguém pra dividir sua miséria; agora já nem isso. A morte levou seu companheiro, e tudo que lhe resta de companhia é o som das gotas de água caindo na pia, e a dona da casa que uma vez por dia, lhe colocava comida. Era essa a atenção que recebia: comida. Melhor do que nada. Sentava em seu pequeno puleiro e esperava, pacientemente, a hora do dia ou da noite em que alguém se lembrasse dele, nem que fosse para lhe servir comida. Via o mundo por detrás de suas grades solitárias e esperava um pingo de afeto. Sagradas migalhas, que ainda o faziam se sentir porcamente vivo.


Do lado de dentro da casa, pela grade da janela, a dona da casa se colocava a fitar o céu sem estrelas, o asfalto, a rua inabitada e a casa abandonada do outro lado da rua. Da janela do seu quarto, o último e mais escondido da casa, esperava por algum sinal. Uma mensagem, uma ligação, uma visita inesperada; nada acontecia. Ao olhar pela janela, se sentia presa numa gaiola, e sufocada pela própria solidão. O que lhe restava? Tantas idas e vindas. Tantas pessoas se foram. Morreram, ou simplesmente a abandonaram. Tanta gente se vai. Tudo é um grande adeus. Ninguém viria para lhe fazer um carinho, nem que fosse por alguns minutos. Dito isto, uma lágrima escorreu-lhe rosto abaixo, e ouviu um ronco. Vinha de dentro de si mesma, concluiu que era fome. Ninguém viria para lhe dar comida. Estava absolutamente só. Foi quando olhou o cachorro na grama, com o olhar tão perdido quanto o seu, e decidiu ir lá fora fumar um cigarro e afagar-lhe a cabeça. Fez isto por alguns minutos, e então lembrou-se que sua mãe havia pedido para que alimentasse o passarinho na lavanderia. Terminou o cigarro e foi alimentar o pássaro, que jazia em sua gaiola quieto, cabisbaixo, e que não demonstrou sentimento algum ao receber comida. Fitou o passarinho por algum tempo, e não sabe porque, mas sentiu uma vontade imensa de chorar. Sentiu-se mal por não ter dado e nem querer dar mais atenção aos dois outros animais que também habitavam aquela casa vazia. Sentiu-se mal por ter sentido um pouco de conforto em saber que apesar dos pesares, mais dois seres tão amaldiçoados quanto ela também habitavam aquela casa nesse momento. Sentiu-se mal, mas nada pôde fazer em relação a isso. Subiu as escadas, e voltou ao seu quarto escuro, a fitar o céu sem estrelas por detrás das grades da janela.
Migalhas. Pequenas migalhas que ainda a faziam se sentir porcamente viva.

Migalhas.

terça-feira, 30 de agosto de 2011


♫ ♪ I've been thinking everyday about you
Don't fit anywhere into my life, but that's okay


'Cause I think I might be right for you
And because of that, I'm not scared at all ♪ ♫



sábado, 30 de julho de 2011

O mal do século

" E mentir é fácil demais... mentir é fácil demais.... "

São tantos males hoje em dia, que fica difícil escolher um só.

Na verdade, eu sei muito bem qual é o mal do século, porém não é dele que vou falar hoje. Me permito 15 minutos ( na real, tá mais pra 15h, ou 15 dias, mas enfim) de surto psicótico, com crenças bizarras em coisas não tão confiáveis – ou não -.

O mal dessa vez, é o mesmo de sempre. Aquele que me faz sentir a pior das idiotas do mundo. Aquele gosto amargo da frustração e aquela sensação nitidamente azeda de estar sendo, mais uma vez, vítima da minha crença no que as pessoas me falam. Devo dizer, com toda a sinceridade, que não é fácil hoje em dia me fazer acreditar. Não é fácil tirar-me o viés de desconfinça. Não me deixo levar mais, pelo menos é o que achava. Já tenho tantas cicatrizes que jurei pra mim mesma nunca mais acreditar em coisas que não existem, desde elefantes rosa até promessas de alguém.

E eu achei que estava indo bem, juro que achei. Por algum tempo pensei que nada nem ninguém mais me faria sofrer. “Nada mais vai me ferir, é que eu já me acostumei, com a estrada errada que eu segui, com a  minha própria lei”. E em certos aspectos, minha lei é extremamente exigente e intolerante. Odeio me frustrar. Odeio criar falsas esperanças.

Tem uma parte de mim tão descrente e amarga quanto um velho, ao fim de sua vida, abandonado num asilo por todos aqueles que um dia disseram – e juraram – lhe amar. Essa parte de mim existe, e por muitas vezes é soberana. Foi uma necessidade real e concreta tornar esta parte soberana. Pra não sofrer. Pra não surtar.

Mas tem outra parte... ah, tão doce. Tão ingênua e tão meiga, tão feliz e saltitante. Tão esperançosa de que, tá, dessa vez vai sim ser diferente! Tão cheia de certeza, sem medo de se entregar, de acreditar, de se doar cem por cento. E confesso que morro de dó dessa parte, porque ela sofre tanto. Muito mais intensamente do que minha parte velha abandonada num asilo, pode ter certeza.

E por tanto tempo tentei extingui-la – essa parte que acredita -, mas ainda há algumas coisas ou pessoas que fazem ela surgir, ainda que contra a minha vontade.

E é tão bom enquanto dura. Tão bom.

Mas não importa, não importa o que eu faça, dura pouco. Sempre dura pouco. Nunca é real.
A frustração sempre vem ao meu encontro. Meus olhos invariavelmente abrem suas portas, e aquele gosto salgado na boca permanece por algum tempo. Tempo suficiente pra que eu não saiba nem pra onde ir, ou pra onde correr.

Sei que sou sempre a que fala demais, come demais, sente demais, pensa demais, age demais, dorme demais. Sempre sou a exagerada demais. Eu (quase) sempre estou nos extremos. Eu quase sempre tenho motivos pra sentir aquele gosto salgado na boca.

Eu confesso que me odeio um pouco por ser tão exagerada. Por que eu não posso ter a capacidade de julgamento como uma pessoa normal? Por que eu nunca sei o que vai ser bom ou ruim? Por que eu sempre escolho a porta errada?

Chego a concluir que todas as portas são erradas. E parte de mim aprendeu isso há muito, muito tempo. Só que não é sempre que a gente se contenta em apenas observar a vida lá fora pela janela.

Tentar viver é algo que me acontecesse de tempos em tempos. Tentar. Nunca consegui.

Concluo, pela milionésima vez, que nada é capaz de me tirar esse salgado da boca e me dar abrigo. Infelizmente, mais uma vez o sabor da frustração vem me lembrar de que infelizmente estou viva, apesar de o meu bote quase afundar tantas e tantas vezes. Nenhuma âncora, nenhum cais. Nada.

E digam o que disserem, o mal do século é, de fato, a solidão.




"And where, where do I go to feel good?"





quinta-feira, 28 de julho de 2011

Por enquanto


Não era uma noite de outono, apesar do vento estar suficientemente cortante e gélido.
De sua janela, apreciava a paisagem grotesca que via: muros, cercas, lixo, a casa abandonada em frente à sua. Nada, nenhum sinal de vida; nem lá fora, nem aqui dentro.
Era como se, de repente, o mundo estivesse da forma que sempre o vira, mas que não conseguia provar a ninguém, exceto a si mesma, que essa visão era de fato verídica. Tudo era um grande e imponente vazio.

O som do relógio se fazia presente o dia todo, avisando com seu ar de vitória que mais um dia havia se passado, com suas tantas e tantas horas, e que eu nada havia feito com elas. As horas, todas elas, estavam tão vazias quanto a rua lá fora.
Abriu um pouco a janela, e mal pode suportar as primeiras rajadas de vento que adentraram. Eram exasperadamente congelantes, paralisantes. Pegou seu casaco, não muito grande, e decidiu sair.

As casas e suas arquiteturas lhe chamavam bastante a atenção. Sempre imaginava que tipo de pessoa usaria aquele tipo de janela, teria aquele tipo de carro e pintaria sua casa daquela cor. Imaginava o que se passava dentro de tantas casas nesse exato momento. Apesar da rua estar deserta, sabia que havia vida escondida por detrás dos tijolos.

Tanta vida, tantas possibilidades. Tanto tempo.
Será que sou só eu que não sei o que fazer com as horas?

Andava desapressadamente, apesar do frio, e pensava em qual rumo tomar, à medida que virava a esquina. Se preencher as horas fosse tarefa fácil como dobrar esquinas, certamente escolher não seria tão doloroso. Se voltar no tempo fosse possível, decidir seria banal.
Se passa tanto tempo pensando em o que fazer com o próprio tempo que está se esvaindo nesse exato segundo. Um desperdício, sabia disso.

Enquanto as horas passam devagar, os pensamentos voam velozes, mas não deixam nenhuma concretude.
O vazio se faz presente em quase todas as horas. 
Mas por enquanto. Apenas por enquanto. 
Prometeu a si mesma, e pôs-se a andar.


A única coisa concreta, pelo menos naquele momento, era o vazio da rua e o silêncio da noite. E tantas, tantas histórias - presentes e também possíveis - por detrás dos tijolos.





quinta-feira, 7 de julho de 2011

sexta-feira, 17 de junho de 2011

O mundo real, as árvores e o céu.
O prédio e o concreto, as escadas e as paredes.
As pessoas. 

As folhas e as canetas.
O vento, e as folhas.
O ar. O invisível. 
O impalpável,
que é visivelmente presente.
O inegável.

A vontade. A indecisão.
A necessidade?
Tantas necessidades.
O precisar. E a imprecisão.

O teto. O muro.
O gato. O pulo.
A mala. O livro.
O copo de suco.

A música. A figura. 
Criatividade.
O branco. 
O carinho. A amizade. 

O ser.
O não ser.
O tudo e o nada.

Olhos abertos, pálpebras cerradas.
Boca seca.
Coração quente, mãos geladas.

Passo por passo.
Letra por letra.
Movimento. 

Pra que lado?

Onde estou?

Pensar nem sempre é uma opção.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

weak leak

Eu não mereço?
Medo da cortina que se abre.
Há a possibilidade de mudança.
Mas não, não sou assim!
Não aceito mudar.
Aceito sim.
Aceito?
Batalha interna.
Duas pessoas.
Opostas.
Alteração na correlação de forças.
A negativa já não vence.
A positiva ainda teme.
Tenho medo.
De não dar conta, e ter estado certa esse tempo todo
quando digo e repito que não presto.
Tenho medo de dar conta, e ter que inevitavelmente viver.
Tenho medo de crescer.
Tenho medo.
De estar fazendo cagada.
E se eu me perder?
E se eu nunca me achar?
E se isso for só uma desculpa
- mais uma! -
pra fugir da vida?
E se eu nunca mais voltar?
E se eu me perder?
Se eu não souber o que fazer?
E se eu continuar não sabendo de mim?
O que me garante que me encontrarei?
Quem disse que quero viver?
Isso é pro bem ou pro mal?
Quero viver ou morrer?
Quero agir ou camuflar?
Eu acredito ou não?
Eu quero ou não?
Vale a pena ou não?
O que será de mim?
O que virá?
O que deixarei pra trás?
O que vou escolher?
Em que tudo isso vai me mudar?
O que farei depois?
Estou me definindo?
Mas o intuito não era libertar?
É um processo ativo ou passivo?
Molde ou liberdade?
Eu vou dar conta?
Vou estar sozinha?
O que vai me ajudar?
O que vai me ajudar?
O que vai me amparar?
Pra onde posso correr?
O que farei com todas as horas?
O que elas farão de mim?
Como sairei disso tudo?
Eu vou sair disso?
Há esperanças?
Há futuro?
Devo tentar?
Ou devo fugir?
Devo ficar ou partir?
Pra onde correr?
O que carregar?
O que permitir?
Que palavras gritar?
Não quero correr.
Não quero ficar.
O que querer?
Depende de quem quer.
Tem duas de mim.
Tem duas de mim.
Quem sou eu?

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Nada.

De tudo que vem
De tudo que chega
De tudo que vai
O que fica?

Dos dias, das horas,
de cada segundo, de cada palavra,
de cada risada, de casa desabafo,
o que resta?

Toda a relutância, toda a negação,
todo o esforço em dizer : não.
De tanta insistência, o não se foi.
E o que ficou?

Marés vem e vão.
Vem e vão.
Vem, mas também se vão.
Em vão.

De tudo que eu não quis querer,
de tudo que eu achei que podia ter.
De tudo que me ofereceu conforto,
o que ainda tenho o direito de desejar?

Não é questão de aprender;
não se controla o fluxo dos sentimentos.
Controle não existe; existe!
Não existe.
Existe sim!
Sei lá...

É tudo um grande arrependimento.
Pelo sim, e pelo não.
É tudo um grande sofrimento.

É como ir atender a campainha que toca incessantemente.
Ignorar, como?
Vencido pelo cansaço.
Abre-se a porta, e, cadê?
Nem o vento ousa dizer um uivo.

Não há palavras que consertem.
Não há palavras que respondam.

Só o vazio responde minhas perguntas.
O vazio dos dias  e o silêncio das horas.

E me respondem com uma pergunta retórica.
Simples, porém fatal.

Minha cara, ponha tudo na balança.
Tudo que veio, tudo que foi, tudo que machuca e que conforta.
E aí sim, após essas ponderações, nos diga
o que te sobra?

domingo, 5 de junho de 2011

Brain Damage

The lunatic is on the grass.
The lunatic is on the grass.
Remembering games and daisy chains and laughs.
Got to keep the loonies on the path.
The lunatic is in the hall.
The lunatics are in my hall.
The paper holds their folded faces to the floor
And every day the paper boy brings more.
And if the dam breaks open many years too soon
And if there is no room upon the hill
And if your head explodes with dark forebodings too
I'll see you on the dark side of the moon.
The lunatic is in my head.
The lunatic is in my head
You raise the blade, you make the change
You re-arrange me 'till I'm sane.
You lock the door
And throw away the key
There's someone in my head but it's not me.
And if the cloud bursts, thunder in your ear
You shout and no one seems to hear.
And if the band you're in starts playing different tunes
I'll see you on the dark side of the moon.

"I can't think of anything to say except...
I think it's marvellous! HaHaHa!"

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Abriu os olhos e tudo girou. Parecia que o mundo, inquieto, brincava de qualquer coisa que lhe causava uma das piores sensações no mundo: náusea. Enquanto erguia a cabeça para certificar-se de que estava mesmo em seu quarto, sentia aquela ânsia crescer cada vez mais, e arrependida, voltou a afundar a cabeça no travesseiro. As cortinas estavam abertas, e ela pode fitar mais uma vez o cinza tom de derrota no céu nublado. Estava acostumada com essa visão matinal; tons de derrota estão em todos os lugares, do cinza ao roxo.

Pensava que era preciso viver aquele dia. Mas pra que? Seria tudo sempre igual, sempre. Pensava em tudo que semi-preenchia seus dias. Pensava de um por um, em todos que faziam parte de sua vida e concluía sem muitas novidades de que estava definitivamente sozinha. Sozinha. Quem sabe pra sempre.

Sabia o que era se sentir sozinha. Não fisicamente; não se trata disso. Sozinha com o que realmente se é. Sozinha com tudo aquilo que te faz ser, de fato. Incompreensão é algo que machuca, paralisa e faz com que o mundo tenha tons de derrota. Mas não culpava ninguém. Nem ela mesma conseguia se compreender, como poderia cobrar tal compreensão de outra pessoa? Sabia que não era maldade de ninguém. Mas sabia que estava completamente só.

Já não era novidade ter esses sentimentos. E ficou num silêncio profundo por vários minutos. Silêncio por todos os planos mais uma vez aniquilados por tantos e tantos tons e sobretons de derrota.

Sabia que não poderia seguir em frente mais por muito tempo. Como seguir sem se sentir pertencente a lugar algum? Caminhar, caminhar, para chegar aonde? Qual o objetivo? Qual a possibilidade de caminhar?

E o silêncio, assim, tomava conta da manhã, tão desgastante.

Queria naquele dia algo que simplesmente a lembrasse de ser humana. Humana. Com tudo que isso implica, coisas ruins e coisas piores ainda. Apenas uma palavra de interesse e de compreensão. Apenas isso bastaria pra que se sentisse viva. Pra que sentisse que teria forças pra enfrentar mais um dia em meio a tantos tons, de derrota, de ódio, de tristeza profunda, de desistência.

Quem sabe, somente um abraço fosse capaz de fazer ela se lembrar que está viva. Que existe. Que é tão humana quanto qualquer outra pessoa. Um abraço de compreensão, daqueles que te dizem que tudo passa, e que são apenas dias ruins, e não pro resto dos tempos. Um abraço de uma tarde inteira. Um abraço pra vida toda.

Arrepiou-se. Lembrou-se num lapso de sua memória boicotadora que havia sim algo no mundo que a fizesse saber que o cinza de derrota dos dias não era tão incompreensível assim, e que aliás, era entendivelmente simples. Complexo, porém tão simples quanto a afirmação de que 2 mais 2 são 22.

Hesitou. E permitiu-se concluir que não era mais verdade que não havia sequer uma pessoa no mundo capaz de a entender. Tudo bem que ao longo dos anos, tanta e tanta gente foi embora e foi mandada embora justamente por não fazer idéia do que se passava dentro da sua cabeça. Não gostava de explicar. Ou sente, ou não sente. Mas dessa vez não precisava explicar-se, e isso a extasiava. Não precisava explicar-se!

Não precisava dizer quanto aquele dia doía. Quantos medos tem guardado dentro do armário. Quantas idéias se passavam por minuto em sua cabeça, e principalmente, não precisava explicar que nenhuma delas prestava. Alguém no mundo sabia disso. Alguém no mundo sabia, e não a considerava o pior dos piores por causa disso.

Sentiu-se humana. Sentiu-se maravilhosamente humana. Sentou na cama, e pediu perdão bem baixinho pela injustiça que cometera. Quem sabe esse perdão chegue aos ouvidos, quem sabe. Mas perdão a gente pede com gestos, e não com palavras.

Sentiu-se viva novamente. Sentiu-se compreendida, e isso era tudo que precisava. Por quanto tempo poderá sentir-se assim, acolhida? Pergunta impossível de ser respondida, seja por quem for. Mas, decidiu que preocupar-se com isso seria não viver o dadivoso presente.

Fechou os olhos, deu o melhor sorriso que o dia lhe permitiu. Resolveu enfrentar a vida, pelo menos por hoje. Se o amanhã lhe trouxesse igual sentimento de compreensão, conseguiria preencher seu livro da vida. Afinal, é preciso preencher as páginas em branco com algo, e cansou de derrotas.

Sabia que não estava sozinha. E, assim, se deu conta de toda a magnitudade da vida. 

domingo, 8 de maio de 2011

Quando me vi tendo de viver comigo apenas e com o mundo,

você me veio como um sonho bom.

E me assustei.

Não sou perfeito.

sábado, 30 de abril de 2011

O passeio da boa vista

O meu coração está desesperado espero por alguém que nem virá
Abro a janela dou de cara pro mar e meus sonhos a navegar
Meus segredos estão expostos
Meus desejos seguros
Não vou sofrer
Não quero sofrer
Talvez morrer

É só a solidão batendo na janela do meu quarto
Estou sozinho já não sei quanto tempo vou suportar
Estou sem coragem, não quero chorar.

Um dia na chuva outro no sol
O passeio da boa vista nunca aconteceu
Ouço apenas o ruído do silêncio
E não sei o que dizer
Apenas sei chorar.

Renato Russo

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Valeu Roberta pela referência! =)
Trecho de Caio de Abreu.


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― Sabe, eu pensei tanto. Eu acho que.
Ela se voltou de repente. E disse:
― Eu também. Eu acho que.
Ficaram se olhando. Completamente dourados, olhos úmidos. Seria a brisa? Verão pleno solto lá fora.
Bem perto dela, ele perguntou:
― O quê?
Ela disse:
― Sim.
Puxou-o pela cintura, ainda mais perto.
Ele disse:
― Você parece mel.
Ela disse:
― E você, um girassol.
Estenderam as mãos um para o outro. No gesto exato de quem vai colher um fruto completamente maduro.

domingo, 24 de abril de 2011

Cansei.
De não ter pra onde correr.
De não saber o que dizer, nem o que sentir.
De não encontrar o conforto em lugar algum.

Cansei de esperar.
Cansei de sonhar.
Cansei de achar.
E de procurar.

Cansei.
De pensar que tudo melhora.
De insistir que há no mundo compreensão.
Cansei de tentar me encaixar.

Cansei de ilusão.
De ver tudo que não existe.
De viver apenas dentro da minha própria cabeça.

Cansei de achar que a intensidade é boa.
Que sentir demais é normal.
Que entregar-se por completo não é ruim.

Cansei de tanto apanhar.

Cansei de mim. Da vida. De tudo.

Cansei.

sábado, 23 de abril de 2011

Mar de vento

Faz tempo que não olhava através da janela.
Já tinha esquecido a sensação de sentir o vento das lembranças tocar meu rosto.
Não é todo dia que pensar é  permitido, não é mesmo?

Há quem nunca tenha permitido-se pensar, e acho que por estes só sinto pena.

Tal qual o vento, os pensamentos passam. Sem destino. Ou quem sabe fazendo exatamente aquilo que devem fazer: preencher o vazio de algumas tardes.

Sinto me vazia. Não por completo, mas esvaziando-me.

Tirando de mim o peso dos anos. O peso de tantas horas desesperadas.
Dando-me um voto de indulgência. Tirando-me a culpa.
Aliviando todo aqueles sentimentos sórdidos e idiopáticos. Tudo aquilo que me fazia crer que eu era um monte de pensamentos ruins e fatos trágicos. De fato fui. Mas porque fui forçada a ser.

Ninguém é tão ruim quanto pensa ser, e nem tão bom. Daonde surgiu essa mania de classificar as coisas entre boas e ruins? Há tanta, mas tanta coisa escondida por detrás de adjetivos medíocres.

O desespero não está mais presente. Por agora. Espero sim, e muito.

De que adianta entregar-se? Em nada resolve. Não há solução imediata. Quem sabe não haja solução de maneira alguma, porém é preciso admitir que há chances das coisas mudarem. Há chances de tudo ser melhor. Hoje eu vejo as possibilidades.

Não que todas as coisas ruins do passado mudem ou que, de repente, a memória se acabe e deixe a vida na paz da não lembrança. Não acredito em recomeços, partir do zero nunca é uma possibilidade. Ao meu ver, a única coisa possível é tentar novamente. É possível não cobrar-se, porque é possível entender seus próprios motivos. E os do mundo ao redor. E à partir disso, é possível saber como mudar o que incomoda. Aliás, é preciso saber de fato o que incomoda.

Mudar é o de menos. Não que seja fácil, longe disso. Mas saber qual mudança é realmente necessária, por ser a única eficaz, é uma tarefa deveras difícil. Difícil compreender o todo. Difícil cutucar suas feridas abertas, que sangram, latejam e que fazem questão de doer cada dia mais.

Acredito em mudança de ponto de vista. Em conhecimento. Acredito no crescimento da nossa consciência. E pra me livrar de tudo que sou, preciso primeiro saber exatamente o que sou. Saber o que me faz ser quem sou. E saber o que de mim não quero ser, pra aí sim, poder seguir em frente.

Se sentir dói, pensar não fica pra trás. Mas sem pensar, sentimentos não mudam. Há quem diga que sentimentos surgem do nada, simplesmente existem; acho isso falta de bom senso. É claro que sentir exige uma carga material muito forte. Ficar na superficialidade do sentimento é correr o risco de jamais encontrar-se, jamais entender-se. Quem sente, sente porque (insira aqui suas reflexões mentais).

Avisto uma luz no fim do túnel. Avisto uma possibilidade de céu claro, lá no horizonte. E o horizonte não é inatingível. Depende de mim? Não somente, mas também. Se minha consciência está determinada por tantos e tantos fatos concretos, cabe a mim procurar a melhor maneira de me livrar de tudo que incomoda.

Abro as cortinas nessa tarde e deixo o vento entrar. Deixo ele tocar minha face. Deixo que tire a poeira dos pensamentos, e me dê um sopro de coragem. O caminho não é fácil. Sei disso. Estou disposta a percorre-lo até o fim.

Sei que não é possível ignorar tudo o que fui e tudo que passou. Não é possível apagar a marca dos anos, e de tantas noites em claro.
Mas é possível superar. Superar a mim mesma.

Superarei.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Impaciência

Tum ta... tum ta... o coração batia tão alto e forte no peito que o fez acordar no pulo ,ofegante, como se alguém furiosamente batesse à porta. Num gesto concomitante abriu os olhos e sentou na cama, enquanto ouvia aquela batida intensa e mortificante, sentia que algo de muito ruim estava prestes a acontecer. Pior, já estava acontecendo, ele só não sabia nem como nem aonde! Enquanto a respiração ofegante lhe sugava as energias, teve a mais tenebrosa lembrança: era dia de consulta. Ao pensar nisso, o bichano de dentro do peito pulou três vezes mais forte, como se estivesse tentando sair realmente pela boca, numa tentativa de livrar-se da tão temida tarefa do dia. Não adianta, não tem jeito, tentava conversar consigo mesmo. Sabe que não tem o que fazer com relação a isso, eram necessárias essas horas periódicas entre médico e paciente, ver como anda o tratamento, se os remédios estão dando certo, se a doença está controlada, era sempre tudo igual. Senta, fala, fala, remédio, reconsulta... de tempos em tempos, tudo se repete. Enquanto lavava o rosto, se viu no espelho, e parou. Ao contemplar-se, procurava entender o porque de ser sempre assim, esse medo, essa angústia. Afinal, é apenas consulta. Acaso não tem experiência com isso? Há quantos anos lida com essas idas e vindas, esses rituais de remédios, essas longas conversas dentro das paredes úmidas e obscuras de consultórios psiquiátricos? Tentava entender-se, porém a cada vez que pensava na conversa que teria dentro de poucos minutos, tremia por inteiro. Conversar sobre essas coisas é para os fortes, pensava. Só louco mesmo para falar sobre seus monstros internos, seus medos mais sem eira nem beira, seus pensamentos mais sem lógica, aqueles que todo mundo tem, mas que a maioria nega ter um dia sequer pensado. Ter pensamentos insanos não é nada; louco mesmo é quem assume que os tem. Enquanto pensava isso, saía de casa, mas sem pressa, apesar da contínua taquicardia. A cada quarteirão, o coração batia mais forte, e mais forte, e mais forte, como se carregasse dentro de si toda a angústia do mundo concentrada em algumas poucas fibras musculares, dando o melhor de si para que essa energia se dissipasse e não viesse a explodir de uma só vez. Mal conseguia respirar, uma água por favor! Agarrou aquela garrafa de água como se fosse um voto de indulgência, e enquanto a tomava e a sentia apagar, de maneira bem tímida e incompetente, o fogo que sentia dentro de si, olhava todo aquele movimento ao redor, as faces, os passos largos e decididos, a falta de expressão naqueles rostos apressados, e pensava que aqueles ali poderiam estar indo enfrentar o dia do diabo que fosse, mas nada se compararia ao que estava prestes a enfrentar. Quem ali aguentaria uma hora de consulta? Fez-se um nó em sua garganta, e decidiu que, querendo ou não, era preciso enfrentar o desafio. Foi assim que lançou-se em direção ao consultório, rezando para que fosse o que Deus, ou seja lá qual força que rege o universo, quisesse. Chegou lá, deu bom dia ao porteiro. Elevador lotado, apertou o décimo primeiro andar, e repetia pra si mesmo numa tentativa falha de convencer-se de que ninguém conseguia ouvir suas batidas do peito, só ele mesmo. Tentou fazer ‘cara de normal’ enquanto o elevador pingava de andar em andar. Não queria que ninguém o achasse maluco.
Até que chegou seu andar, abriu a porta, não havia ninguém na sala de espera. A secretária fitou-o por alguns segundos, e então disse, num tom alegremente falso, bom dia. Não a respondeu. Sentia que estava pálido, e seguiu reto até encontrar a cadeira. Sentou-se, desapertou um pouco o nó da gravata e esticou-se tentando buscar algum conforto físico diante de todo o desconforto psicológico em que se encontrava. Ela, com cara de assustada, não sabia o que fazer e perguntou: está tudo bem? Nem conseguia falar. Apenas fez um gesto com a mão, como quem diz que não há nada que se possa ser feito. Ela abriu a porta do consultório, ele entrou. Parou logo após adentrar a porta, e em pé, fitou a sala. Olhou tudo ao redor, aqueles móveis escuros, aquelas luzes meio apagadas, que dão um clima sério e conspirador. Móveis de bom gosto, assumia. Janela fechada. Livros, muito livros, nada sob a mesa. Nada além do prontuário, de uma caneta, e... só. Era tudo que se precisava pra consulta, não era? Respirou fundo, repetia mentalmente em poucos segundos tudo que ensaiara em casa para falar na consulta, mas nessas horas de nervosismo a memória varre tudo pra debaixo do tapete. Tentava lembrar, mas não vinha nenhuma idéia, começou a apavorar-se; nisso a secretária disse: deseja uma água? Sente-se por favor. Encabulado, sentou-se. Tomou um gole de água, arrumou-se na cadeira, e quando a secretária disse: doutor, o paciente já chegou, tomou coragem de levantar a voz e corajosamente disse: pode mandá-lo entrar. 

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Os primeiros raios de sol chegavam nada discretos.
Com a cortina aberta, e os olhos semi-abertos, aquele clarão do sol nascendo ameaçava cegar qualquer um que ousasse manter os olhos abertos, e é exatamente por isso que tinha o triplo de dificuldade para aceitar o fato de que precisava acordar. Abrir os olhos pro mundo é doloroso. Nesse caso, também literalmente.

O caminho entre o acordar e o sentar na cama é um dos mais tenebrosos do dia. 
Primeiros pensamentos. Aqueles que dão o tom de todas as horas que se seguirão.
Todo dia era assim: acordava; com muito custo abria os olhos. Com muito mais custo, sentava na cama, e enquanto sentava lentamente, pensava: merda, merda, mais um dia. Por que? Até quando?

Sair da cama é um ato bravo.
Depois de percorrer mentalmente e lamuriosamente todo o caminho que enfrentará no dia, ainda assim ter forças pra sair da cama não é tarefa pequena.
Só os bravos vencem essa batalha diária.

E não é questão de pessimismo ou otimismo.
Longe disso. 
É estatística.

Viver o dia não é tão doloroso quanto parece nos primeiros momentos.
Acho que nenhuma dor é tão terrível na teoria quanto na prática.
Pensar no que pode ser é terrivelmente pior.

Esse medo de ter medo de ter medo é paralisante.
Se toda dor vem do desejo de não sentir dor, o caminho é sentir a dor e ignorar seu incômodo, ou procurar um meio de não sentir?
Há um abismo entre o sentir e o não sentir. Entre o resolver, e o ignorar.

E eu não sei se engavetar é a melhor opção.
Pois em tempos de mudança, é preciso abrir todas as gavetas, e resolver o que fazer com elas.
Estou abrindo minhas gavetas.

Não seria justo comigo mesmo ignorar tanta coisa que guardei.
Coisas boas e, em sua maioria, ruins.
Elas são o que sou. Se não olho para elas, como posso ser eu mesmo?
Não tem como ignorar o livro dos dias.

Como posso seguir em frente, se tudo que se oferece para fazer parte da minha vida,
ofereço em troca uma resposta pronta: já tenho isso, em alguma gaveta. Vá embora.
Ou então: já tive isto, e guardei longe dos meus olhos por não saber lidar. Não volte mais, portanto.

Quero que tudo fique comigo até quando for necessário ficar.
Mas que eu saiba deixar as coisas partirem de mim, me deixarem..
Quero poder não deixar o velho atrapalhar o novo.
Afinal, é mentira quem diz que só se vive uma vez só.
Estamos vivendo, tantas e tantas vezes num mesmo dia.

Cada palavra é um sopro de vida.

E sei que essa tristeza de todos os dias, às vezes maior, às vezes menor,
é o reflexo de tudo que está guardado no nosso armário, e que carregamos conosco pelas ruas e pelas conversas. 
Rotulamos o dia, rotulamos a vida.
Quem nos deu esse direito?

Viver nas entrelinhas, vale a pena?

Engano.
Grande engano.

Quem sabe abrir os olhos pro mundo não seja tão terrível assim, quando as gavetas não estão cheias.
Aí que mora o perigo: estatísticas são confiáveis?

Malditas estatísticas.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

with the lights out, it's less dangerous

As I remember the old times
this would never happen.
It's not easy to put a heart aside
and feel it so rationally

Expectations are not good
If you're not able to make them happen
If you're not in control, you lose
You lose your mind.

And I'm not up to losing this time.
I'm not up to losing my mind.
The tragedy is about to start
Where are they now?

Don't wanna put bullshits on you
But maybe you just need to know
That I don't wanna lose it, nor win it
I just wanna think, emotionally

I just wanna feel your words reaching me
And live this unknown world about to begin
I wanna see where this can take me
I wanna be free, free from myself

Can you help me to climb it?
You don't have to take my hands, just walk along
Along with me
Walk for you, and walk for me

If I could get out the tray
And do not believe my guesses
Maybe life would be better
Maybe life is already better than I imagine

That's why i'm not up to losing this time.
I won't lose my mind.
The tragedy has already started.
Where are you now?

Won't you show up and say that
This time I won't lose it?
This time I must make it.
Own-hostage days are over.

Rationally, that's what I feel.
Emotionally, that's what I think.
Objectively, I'm on it.
Personally, I can't hide or run anywhere.

I'm here. I'm this. I'm lost, but I can be found.

domingo, 27 de março de 2011

Legio Urbana Omnia Vincit

editado... tava meio bizarro, o blogger tinha comido um trecho do que eu escrevi; =(


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27 de março.
Há 51 anos nascia um dos poetas mais cativantes que este país já viu.


Renato sempre fez parte da minha vida.
Escuto Legião Urbana desde criança, desde bebê. Me traz boas lembranças. Muito boas.
Lembranças que me remetem ao meu querido irmão.


Daquele tempo em que eu era criança, e apenas descobria o mundo. Não precisa pensar nem analisar, apenas saber de tudo que existe e de tudo que acontece. Tempo em que eu podia constatar algum aspecto bastante cruel da vida - como crianças, exatamente como eu na época, dormindo em papelões no frio curitibano e passando fome;  coisa que por sinal eu nunca entendi -, e simplesmente ignorar, pensar que não era verdade, e inventar a história do mundo com meus brinquedos. Eles me bastavam.


Do tempo que eu colocava os vinis na sala e ficava pensando o dia todo no meu irmão, desejando que ele voltasse pra casa logo.


Ele é fanático por legião - ou era, hoje o coitado não tem mais tempo pra nada - e eu era fanática por ele. Logo, adorava estar em contato com as coisas que ele adorava, apenas pra poder sentí-lo mais perto de mim, visto que ele saía o dia todo e saiu de casa quando eu tinha apenas 7 anos.


Foi desde pequena que aprendi a gostar de ouvir as músicas do Renato. Não somente pelo meu irmão. Mas por, de alguma forma, sentir as músicas. É claro que eu não entendia bulhufas do que estava sendo dito, e olha que eu tentava, como tentava! Mas as coisas não faziam sentido no meu pequeno universo resumido a poucas palavras. Mas a música, a melodia... diziam tudo.


Não raros eram os dias que eu sentava na sala, sozinha, colocava um vinil e escutava Legião por horas e horas. Pensava nas letras. Tentava entender todo o sentimento que aquela voz me fazia perceber. Chorei muitas vezes. Sem nem mesmo entender uma palavra. Dizem que a música é a linguagem universal, não é?


E sinto as músicas até hoje.
Não raro me pego com vontade de ouvir Legião.
Concordo com meu irmão que não é todo dia que se pode ser legionário; não é todo dia que estamos no clima de ouvir Renato Russo.
Mas sua presença sempre foi constante em minha vida. Sempre.


Ouso dizer que conheço quase todas as músicas.
Sei cantar, e sei o que cada uma significa pra mim.
Impossível postar uma que me chame mais a atenção: amo todas, todas sem exceção.


Legião Urbana é parte da minha vida.
Sei que há quem ame, e há quem odeie, e arrisco dizer que quem odeia é porque não entende.
Simplesmente assim.


Eu entendo, cada momento de uma forma.
E me sinto acolhida, e compreendida.
E com uma angústia no peito que só quem sente sabe o que é.


Mas sempre com a nostalgia presente.
De um tempo ruim, mas ao mesmo tempo bom, que não volta mais...


Pra fechar, termino o post com uma das músicas que mais me dá nostalgia.
Do tempo que eu ficava pensando o que seria ter amigos, que precisavam trabalhar; o que seria essa coisa de não ter dinheiro; o que seria viver nesse mundo, que diziam ser tão difícil; sempre quis entender porque ele, homem feito, tinha medo e não conseguia dormir.


Hoje em dia eu sei.
E nesses dias tão estranhos, fica a poeira se escondendo pelos cantos...


sábado, 26 de março de 2011

pensamento do dia, ou do mês

Um brinde aos nossos defeitos, porque nossas qualidades filho da p*ta nenhum reconhece.



quarta-feira, 23 de março de 2011

questões estruturais

Laura era uma menina feliz.
Pelo menos achava que era. Até o dia em que percebeu que trabalhar não é uma dádiva, mas sim uma obrigação cotidiana e destruidora.
Não tivera oportunidade de estudar. Estudara até a 5ª série, e após isso, as despesas da casa ficaram extremamente pesadas e não teve outra alternativa: com 12 anos, começou a trabalhar.


Hoje tinha já 17 anos, e ao observar os seres humanos da mesma idade que a sua e que compravam produtos com ela na loja ( era vendedora ), observava que a maioria tinha uma mochila nas costas.
Estudantes. Aqueles que estudam.
Ficava maravilhada com o fato de que existem pessoas que podem estudar e entender o mundo tão melhor do que o pouco esclarecimento que ela tinha, que tinha sido permitido chegar a seus ouvidos.


Sempre pensava: como eles conseguiram? Por que eles podem e eu não?
Lembrava de todas as broncas que levava da chefe, que a chamava de lenta e burra.
Lembrava de todas as sátiras no seu emprego anterior, só porque ela falava o português errado.
Nem se lembrava mais se algum dia tinha aprendido o português, não entendia do que tanto riam.


Todos a chamavam de burra.
Não estudou, nem faculdade poderia fazer. E na realidade, isso jamais passou pela cabeça dela. Fazer um curso superior nunca foi possibilidade pra quem vem do lugar onde mora.


Se sentia inferior. Sabia que era incapaz.
Desesperou-se.
Por quê Deus tinha que ser tão cruel com ela?


Sonhava em poder estudar alguma coisa que gostasse. Sonhava em saber fazer contas.
Até mesmo sonhava com a possibilidade de algum dia conseguir terminar de ler um livro inteiro.
Sonhava com casa, com emprego, com filhos que tenham o que comer.


Sentia de fato uma saudade da infância. Não que fossem tempos mais felizes, mas é que talvez ela não soubesse quão infeliz era. E isso por si só já era motivo pra dar o mais alegre dos sorrisos, mesmo sabendo que a vida nunca tinha sido um mar de rosas, pelo menos pra ela.


Chegou em casa e indagou aos seus pais, já velhos e acabados de mais um dia de trabalho, como foi sua infância.
Eles disseram que ela era muito esperta, apesar de ter tido alguns problemas de saúde.
- Que problemas?!
Ficou curiosa.


- Nada demais, minha filha. O doutô disse que talvez você não pudesse crescer assim da altura das outras crianças, era muito magricelinha. Nem ser tão esperta quanto elas. Mas fora isso tava tudo bem, a gente era feliz.


Sua família sempre fora pobre. Seus pais a tiveram muito cedo, com 17 anos cada. Moravam de favor na casa da avó; seu pai, que tinha estudado só até a 6ª série, não conseguia achar emprego; sobreviviam com 600 reais mensais, com 6 membros na familia.


O fato é que a medicina tentou.
Mas a maioria das questões de saúde extrapola a medicina.
O doutor mandou os pais alimentarem ela melhor, pra que pudesse crescer. Disse que ela precisava aprender a gostar de comer outras coisas além de mistura de farinha, arroz e esporadicamente feijão.


- Mas doutor, gostar de comer de tudo, ela até gosta. Mas e dinheiro pra gente comprar, cadê?


Não tinham dinheiro nem pra pagar a passagem de ônibus até lá, quiçá pra comprar um quilo de carne (absurdamente caro).
Proteínas, proteínas.
Santos complexos estruturais, necessárias para que um organismo humano cresça adequadamente.
Proteínas, nessa sociedade, não são pra todos.


O médico então passou uma orientação de tomar mais leite e comer mais ovos, visto que carne era impossível pros pais de Laura comprarem; e também passou um complemento vitamínico alimentar para que ela pudesse desenvolver melhor seus sistema nervoso e assim ser uma criança normal.


Deu tchau à Laura e seus pais, e ao passo que estes saíram do consultório, virou para os acadêmicos e disse: pobre criança, com certeza terá sequelas neurológicas irreversíveis.


Essa parte da história, Laura não sabia.


Foi pensando na crueldade de Deus que deixou seu trabalho naquele dia.
Sentia-se mal consigo mesma; tinha vergonha de ser quem era.
E seguiu, cabisbaixa, rumo ao ponto de ônibus ao final de mais um dia exaustivo e injusto de trabalho.


Sem saber ela que burro mesmo é quem pode questionar porque tem crianças ainda no mundo passando fome, e não questiona.

I miss the comfort in being sad

Raise your hand if you feel worthless.

o/

segunda-feira, 14 de março de 2011





Saudade de tanta coisa, tanta gente.
Saudade de tudo que já esteve comigo, e de tudo que já fui.
Saudade de tudo que quis ser.
Saudade de tudo que vivi e deixei de viver.
Saudade de quem já se foi, e de quem ainda tá por aqui.
Saudade de tudo aquilo que ainda não vivi.

Simplesmente saudade.

domingo, 13 de março de 2011

starry nights

Me pego olhando pro céu e indagando
quais serão as estrelas que brilharão no meu céu daqui alguns anos.

Às vezes parece tão fácil olhar pra cima, tirar uma fotografia mental de tudo como está e dizer:
é sempre assim.

Será que é?


Qual o limite de tempo que define o pra sempre?


Sei que os céus mudam.
O meu já mudou tantas vezes.
E dá sempre uma tristeza olhar pra cima, admirar cada estrela, uma a uma,
e depois lembrar que é possível que amanhã ela não esteja mais ali.
E que é muito provável que suma daqui alguns anos, caso amanhã ela ainda ali esteja.


Gosto de olhar pra cima e tirar minhas fotografias mentais.
De tanto tempo bom que ficou pra trás. De tanta coisa boa que já não existe mais.


Guardo comigo tantos e tantos retratos.
É verdade que alguns resolvi jogar fora.
Não deveria, mas joguei.


A cada vez que se olha o céu e se vê as estrelas exatamente da forma como a gente queria,
bate uma pré tristeza infinda.
Pois o fato é que vai mudar.
Vai mudar.


E mudanças podem ser necessárias.
Mas... deixa eu contemplar meu céu nesta noite,
assim, calada.
Admirada e com água no canto dos olhos.


Lágrimas de quem não quer perder a visão que tem.