E aí de repente eu paro, e digo a mim mesma:
“Tá tudo bem, tudo bem. Nada vai mudar. Tudo vai ser assim,
do jeito que a gente sempre sonhou.”
Até que acordo da experiência onírica diurna, e os cacos
estão lá, no chão. Meus próprios cacos. Cacos que eu fiz questão de quebrar em
pedaços. O fundo do inferno deve ter um imã, tenho certeza disso. Não sou eu
que cavo o buraco: é o buraco que me cava.
Gostaria de ter, assim, uma esperança qualquer. Sempre
sonhei em ter esperança. E consegui. Eu tive. Eu ainda tenho. Mas percebi que
esperança, por si só, é apenas uma palavra. Palavras podem ser cheias, mas
podem ser vazias. Pra serem cheias, a gente precisa encher elas de qualquer
coisa que não sejam apenas esperanças grafadas e não vividas.
Mudanças são possíveis. Mas quem as fará? Quem pode mudar nosso
próprio destino, se não nossas próprias
mãos? Esperar, por si só, é atestar fracasso. Renato Russo que me desculpe, mas
essa história de que quem acredita sempre alcança, é bullshit. Quem acredita, e
faz alguma coisa pelo que crê, QUEM SABE alcance. Dádivas não caem do céu.
Meu desejo era de que a gente vivesse assim, cheio de
esperanças. Mas esperanças não enchem a vida com nada além do vazio que deixam,
quando se vão. Não quero esperança. Com você, percebi que qualquer coisa é
pouco quando não for exatamente do jeito que a gente quer. Não arredo o pé,
quero tudo que queremos juntos. Nada menos. Cansei de migalhas.
Quero você, e pronto. Simples assim. Por que é tão difícil
de entender?
Assim, entendi que a frase que repeti pra mim mesma, verbalmente,
enquanto meus pensamentos iam longe, não passa de palavras unidas, talvez nunca
vividas.
Eu quero viver. Me deixe viver. Me ajude a viver. Me permita
viver você. Se permita viver também. A vida está passando por nós, enquanto
pensamos nela. A vida não espera. Se tem uma coisa que a vida não dá, é
esperança.
Ao vencedor, as batatas, não é?
Vençamos, pois. Vençamos, por favor. E lá vou eu, voltar a
ter esperança de que um dia venceremos. Ah, essa esperança que me mantém viva. E
nos mantém, de certa forma, mortos.