sábado, 30 de abril de 2011

O passeio da boa vista

O meu coração está desesperado espero por alguém que nem virá
Abro a janela dou de cara pro mar e meus sonhos a navegar
Meus segredos estão expostos
Meus desejos seguros
Não vou sofrer
Não quero sofrer
Talvez morrer

É só a solidão batendo na janela do meu quarto
Estou sozinho já não sei quanto tempo vou suportar
Estou sem coragem, não quero chorar.

Um dia na chuva outro no sol
O passeio da boa vista nunca aconteceu
Ouço apenas o ruído do silêncio
E não sei o que dizer
Apenas sei chorar.

Renato Russo

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Valeu Roberta pela referência! =)
Trecho de Caio de Abreu.


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― Sabe, eu pensei tanto. Eu acho que.
Ela se voltou de repente. E disse:
― Eu também. Eu acho que.
Ficaram se olhando. Completamente dourados, olhos úmidos. Seria a brisa? Verão pleno solto lá fora.
Bem perto dela, ele perguntou:
― O quê?
Ela disse:
― Sim.
Puxou-o pela cintura, ainda mais perto.
Ele disse:
― Você parece mel.
Ela disse:
― E você, um girassol.
Estenderam as mãos um para o outro. No gesto exato de quem vai colher um fruto completamente maduro.

domingo, 24 de abril de 2011

Cansei.
De não ter pra onde correr.
De não saber o que dizer, nem o que sentir.
De não encontrar o conforto em lugar algum.

Cansei de esperar.
Cansei de sonhar.
Cansei de achar.
E de procurar.

Cansei.
De pensar que tudo melhora.
De insistir que há no mundo compreensão.
Cansei de tentar me encaixar.

Cansei de ilusão.
De ver tudo que não existe.
De viver apenas dentro da minha própria cabeça.

Cansei de achar que a intensidade é boa.
Que sentir demais é normal.
Que entregar-se por completo não é ruim.

Cansei de tanto apanhar.

Cansei de mim. Da vida. De tudo.

Cansei.

sábado, 23 de abril de 2011

Mar de vento

Faz tempo que não olhava através da janela.
Já tinha esquecido a sensação de sentir o vento das lembranças tocar meu rosto.
Não é todo dia que pensar é  permitido, não é mesmo?

Há quem nunca tenha permitido-se pensar, e acho que por estes só sinto pena.

Tal qual o vento, os pensamentos passam. Sem destino. Ou quem sabe fazendo exatamente aquilo que devem fazer: preencher o vazio de algumas tardes.

Sinto me vazia. Não por completo, mas esvaziando-me.

Tirando de mim o peso dos anos. O peso de tantas horas desesperadas.
Dando-me um voto de indulgência. Tirando-me a culpa.
Aliviando todo aqueles sentimentos sórdidos e idiopáticos. Tudo aquilo que me fazia crer que eu era um monte de pensamentos ruins e fatos trágicos. De fato fui. Mas porque fui forçada a ser.

Ninguém é tão ruim quanto pensa ser, e nem tão bom. Daonde surgiu essa mania de classificar as coisas entre boas e ruins? Há tanta, mas tanta coisa escondida por detrás de adjetivos medíocres.

O desespero não está mais presente. Por agora. Espero sim, e muito.

De que adianta entregar-se? Em nada resolve. Não há solução imediata. Quem sabe não haja solução de maneira alguma, porém é preciso admitir que há chances das coisas mudarem. Há chances de tudo ser melhor. Hoje eu vejo as possibilidades.

Não que todas as coisas ruins do passado mudem ou que, de repente, a memória se acabe e deixe a vida na paz da não lembrança. Não acredito em recomeços, partir do zero nunca é uma possibilidade. Ao meu ver, a única coisa possível é tentar novamente. É possível não cobrar-se, porque é possível entender seus próprios motivos. E os do mundo ao redor. E à partir disso, é possível saber como mudar o que incomoda. Aliás, é preciso saber de fato o que incomoda.

Mudar é o de menos. Não que seja fácil, longe disso. Mas saber qual mudança é realmente necessária, por ser a única eficaz, é uma tarefa deveras difícil. Difícil compreender o todo. Difícil cutucar suas feridas abertas, que sangram, latejam e que fazem questão de doer cada dia mais.

Acredito em mudança de ponto de vista. Em conhecimento. Acredito no crescimento da nossa consciência. E pra me livrar de tudo que sou, preciso primeiro saber exatamente o que sou. Saber o que me faz ser quem sou. E saber o que de mim não quero ser, pra aí sim, poder seguir em frente.

Se sentir dói, pensar não fica pra trás. Mas sem pensar, sentimentos não mudam. Há quem diga que sentimentos surgem do nada, simplesmente existem; acho isso falta de bom senso. É claro que sentir exige uma carga material muito forte. Ficar na superficialidade do sentimento é correr o risco de jamais encontrar-se, jamais entender-se. Quem sente, sente porque (insira aqui suas reflexões mentais).

Avisto uma luz no fim do túnel. Avisto uma possibilidade de céu claro, lá no horizonte. E o horizonte não é inatingível. Depende de mim? Não somente, mas também. Se minha consciência está determinada por tantos e tantos fatos concretos, cabe a mim procurar a melhor maneira de me livrar de tudo que incomoda.

Abro as cortinas nessa tarde e deixo o vento entrar. Deixo ele tocar minha face. Deixo que tire a poeira dos pensamentos, e me dê um sopro de coragem. O caminho não é fácil. Sei disso. Estou disposta a percorre-lo até o fim.

Sei que não é possível ignorar tudo o que fui e tudo que passou. Não é possível apagar a marca dos anos, e de tantas noites em claro.
Mas é possível superar. Superar a mim mesma.

Superarei.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Impaciência

Tum ta... tum ta... o coração batia tão alto e forte no peito que o fez acordar no pulo ,ofegante, como se alguém furiosamente batesse à porta. Num gesto concomitante abriu os olhos e sentou na cama, enquanto ouvia aquela batida intensa e mortificante, sentia que algo de muito ruim estava prestes a acontecer. Pior, já estava acontecendo, ele só não sabia nem como nem aonde! Enquanto a respiração ofegante lhe sugava as energias, teve a mais tenebrosa lembrança: era dia de consulta. Ao pensar nisso, o bichano de dentro do peito pulou três vezes mais forte, como se estivesse tentando sair realmente pela boca, numa tentativa de livrar-se da tão temida tarefa do dia. Não adianta, não tem jeito, tentava conversar consigo mesmo. Sabe que não tem o que fazer com relação a isso, eram necessárias essas horas periódicas entre médico e paciente, ver como anda o tratamento, se os remédios estão dando certo, se a doença está controlada, era sempre tudo igual. Senta, fala, fala, remédio, reconsulta... de tempos em tempos, tudo se repete. Enquanto lavava o rosto, se viu no espelho, e parou. Ao contemplar-se, procurava entender o porque de ser sempre assim, esse medo, essa angústia. Afinal, é apenas consulta. Acaso não tem experiência com isso? Há quantos anos lida com essas idas e vindas, esses rituais de remédios, essas longas conversas dentro das paredes úmidas e obscuras de consultórios psiquiátricos? Tentava entender-se, porém a cada vez que pensava na conversa que teria dentro de poucos minutos, tremia por inteiro. Conversar sobre essas coisas é para os fortes, pensava. Só louco mesmo para falar sobre seus monstros internos, seus medos mais sem eira nem beira, seus pensamentos mais sem lógica, aqueles que todo mundo tem, mas que a maioria nega ter um dia sequer pensado. Ter pensamentos insanos não é nada; louco mesmo é quem assume que os tem. Enquanto pensava isso, saía de casa, mas sem pressa, apesar da contínua taquicardia. A cada quarteirão, o coração batia mais forte, e mais forte, e mais forte, como se carregasse dentro de si toda a angústia do mundo concentrada em algumas poucas fibras musculares, dando o melhor de si para que essa energia se dissipasse e não viesse a explodir de uma só vez. Mal conseguia respirar, uma água por favor! Agarrou aquela garrafa de água como se fosse um voto de indulgência, e enquanto a tomava e a sentia apagar, de maneira bem tímida e incompetente, o fogo que sentia dentro de si, olhava todo aquele movimento ao redor, as faces, os passos largos e decididos, a falta de expressão naqueles rostos apressados, e pensava que aqueles ali poderiam estar indo enfrentar o dia do diabo que fosse, mas nada se compararia ao que estava prestes a enfrentar. Quem ali aguentaria uma hora de consulta? Fez-se um nó em sua garganta, e decidiu que, querendo ou não, era preciso enfrentar o desafio. Foi assim que lançou-se em direção ao consultório, rezando para que fosse o que Deus, ou seja lá qual força que rege o universo, quisesse. Chegou lá, deu bom dia ao porteiro. Elevador lotado, apertou o décimo primeiro andar, e repetia pra si mesmo numa tentativa falha de convencer-se de que ninguém conseguia ouvir suas batidas do peito, só ele mesmo. Tentou fazer ‘cara de normal’ enquanto o elevador pingava de andar em andar. Não queria que ninguém o achasse maluco.
Até que chegou seu andar, abriu a porta, não havia ninguém na sala de espera. A secretária fitou-o por alguns segundos, e então disse, num tom alegremente falso, bom dia. Não a respondeu. Sentia que estava pálido, e seguiu reto até encontrar a cadeira. Sentou-se, desapertou um pouco o nó da gravata e esticou-se tentando buscar algum conforto físico diante de todo o desconforto psicológico em que se encontrava. Ela, com cara de assustada, não sabia o que fazer e perguntou: está tudo bem? Nem conseguia falar. Apenas fez um gesto com a mão, como quem diz que não há nada que se possa ser feito. Ela abriu a porta do consultório, ele entrou. Parou logo após adentrar a porta, e em pé, fitou a sala. Olhou tudo ao redor, aqueles móveis escuros, aquelas luzes meio apagadas, que dão um clima sério e conspirador. Móveis de bom gosto, assumia. Janela fechada. Livros, muito livros, nada sob a mesa. Nada além do prontuário, de uma caneta, e... só. Era tudo que se precisava pra consulta, não era? Respirou fundo, repetia mentalmente em poucos segundos tudo que ensaiara em casa para falar na consulta, mas nessas horas de nervosismo a memória varre tudo pra debaixo do tapete. Tentava lembrar, mas não vinha nenhuma idéia, começou a apavorar-se; nisso a secretária disse: deseja uma água? Sente-se por favor. Encabulado, sentou-se. Tomou um gole de água, arrumou-se na cadeira, e quando a secretária disse: doutor, o paciente já chegou, tomou coragem de levantar a voz e corajosamente disse: pode mandá-lo entrar. 

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Os primeiros raios de sol chegavam nada discretos.
Com a cortina aberta, e os olhos semi-abertos, aquele clarão do sol nascendo ameaçava cegar qualquer um que ousasse manter os olhos abertos, e é exatamente por isso que tinha o triplo de dificuldade para aceitar o fato de que precisava acordar. Abrir os olhos pro mundo é doloroso. Nesse caso, também literalmente.

O caminho entre o acordar e o sentar na cama é um dos mais tenebrosos do dia. 
Primeiros pensamentos. Aqueles que dão o tom de todas as horas que se seguirão.
Todo dia era assim: acordava; com muito custo abria os olhos. Com muito mais custo, sentava na cama, e enquanto sentava lentamente, pensava: merda, merda, mais um dia. Por que? Até quando?

Sair da cama é um ato bravo.
Depois de percorrer mentalmente e lamuriosamente todo o caminho que enfrentará no dia, ainda assim ter forças pra sair da cama não é tarefa pequena.
Só os bravos vencem essa batalha diária.

E não é questão de pessimismo ou otimismo.
Longe disso. 
É estatística.

Viver o dia não é tão doloroso quanto parece nos primeiros momentos.
Acho que nenhuma dor é tão terrível na teoria quanto na prática.
Pensar no que pode ser é terrivelmente pior.

Esse medo de ter medo de ter medo é paralisante.
Se toda dor vem do desejo de não sentir dor, o caminho é sentir a dor e ignorar seu incômodo, ou procurar um meio de não sentir?
Há um abismo entre o sentir e o não sentir. Entre o resolver, e o ignorar.

E eu não sei se engavetar é a melhor opção.
Pois em tempos de mudança, é preciso abrir todas as gavetas, e resolver o que fazer com elas.
Estou abrindo minhas gavetas.

Não seria justo comigo mesmo ignorar tanta coisa que guardei.
Coisas boas e, em sua maioria, ruins.
Elas são o que sou. Se não olho para elas, como posso ser eu mesmo?
Não tem como ignorar o livro dos dias.

Como posso seguir em frente, se tudo que se oferece para fazer parte da minha vida,
ofereço em troca uma resposta pronta: já tenho isso, em alguma gaveta. Vá embora.
Ou então: já tive isto, e guardei longe dos meus olhos por não saber lidar. Não volte mais, portanto.

Quero que tudo fique comigo até quando for necessário ficar.
Mas que eu saiba deixar as coisas partirem de mim, me deixarem..
Quero poder não deixar o velho atrapalhar o novo.
Afinal, é mentira quem diz que só se vive uma vez só.
Estamos vivendo, tantas e tantas vezes num mesmo dia.

Cada palavra é um sopro de vida.

E sei que essa tristeza de todos os dias, às vezes maior, às vezes menor,
é o reflexo de tudo que está guardado no nosso armário, e que carregamos conosco pelas ruas e pelas conversas. 
Rotulamos o dia, rotulamos a vida.
Quem nos deu esse direito?

Viver nas entrelinhas, vale a pena?

Engano.
Grande engano.

Quem sabe abrir os olhos pro mundo não seja tão terrível assim, quando as gavetas não estão cheias.
Aí que mora o perigo: estatísticas são confiáveis?

Malditas estatísticas.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

with the lights out, it's less dangerous

As I remember the old times
this would never happen.
It's not easy to put a heart aside
and feel it so rationally

Expectations are not good
If you're not able to make them happen
If you're not in control, you lose
You lose your mind.

And I'm not up to losing this time.
I'm not up to losing my mind.
The tragedy is about to start
Where are they now?

Don't wanna put bullshits on you
But maybe you just need to know
That I don't wanna lose it, nor win it
I just wanna think, emotionally

I just wanna feel your words reaching me
And live this unknown world about to begin
I wanna see where this can take me
I wanna be free, free from myself

Can you help me to climb it?
You don't have to take my hands, just walk along
Along with me
Walk for you, and walk for me

If I could get out the tray
And do not believe my guesses
Maybe life would be better
Maybe life is already better than I imagine

That's why i'm not up to losing this time.
I won't lose my mind.
The tragedy has already started.
Where are you now?

Won't you show up and say that
This time I won't lose it?
This time I must make it.
Own-hostage days are over.

Rationally, that's what I feel.
Emotionally, that's what I think.
Objectively, I'm on it.
Personally, I can't hide or run anywhere.

I'm here. I'm this. I'm lost, but I can be found.