segunda-feira, 9 de maio de 2011

Abriu os olhos e tudo girou. Parecia que o mundo, inquieto, brincava de qualquer coisa que lhe causava uma das piores sensações no mundo: náusea. Enquanto erguia a cabeça para certificar-se de que estava mesmo em seu quarto, sentia aquela ânsia crescer cada vez mais, e arrependida, voltou a afundar a cabeça no travesseiro. As cortinas estavam abertas, e ela pode fitar mais uma vez o cinza tom de derrota no céu nublado. Estava acostumada com essa visão matinal; tons de derrota estão em todos os lugares, do cinza ao roxo.

Pensava que era preciso viver aquele dia. Mas pra que? Seria tudo sempre igual, sempre. Pensava em tudo que semi-preenchia seus dias. Pensava de um por um, em todos que faziam parte de sua vida e concluía sem muitas novidades de que estava definitivamente sozinha. Sozinha. Quem sabe pra sempre.

Sabia o que era se sentir sozinha. Não fisicamente; não se trata disso. Sozinha com o que realmente se é. Sozinha com tudo aquilo que te faz ser, de fato. Incompreensão é algo que machuca, paralisa e faz com que o mundo tenha tons de derrota. Mas não culpava ninguém. Nem ela mesma conseguia se compreender, como poderia cobrar tal compreensão de outra pessoa? Sabia que não era maldade de ninguém. Mas sabia que estava completamente só.

Já não era novidade ter esses sentimentos. E ficou num silêncio profundo por vários minutos. Silêncio por todos os planos mais uma vez aniquilados por tantos e tantos tons e sobretons de derrota.

Sabia que não poderia seguir em frente mais por muito tempo. Como seguir sem se sentir pertencente a lugar algum? Caminhar, caminhar, para chegar aonde? Qual o objetivo? Qual a possibilidade de caminhar?

E o silêncio, assim, tomava conta da manhã, tão desgastante.

Queria naquele dia algo que simplesmente a lembrasse de ser humana. Humana. Com tudo que isso implica, coisas ruins e coisas piores ainda. Apenas uma palavra de interesse e de compreensão. Apenas isso bastaria pra que se sentisse viva. Pra que sentisse que teria forças pra enfrentar mais um dia em meio a tantos tons, de derrota, de ódio, de tristeza profunda, de desistência.

Quem sabe, somente um abraço fosse capaz de fazer ela se lembrar que está viva. Que existe. Que é tão humana quanto qualquer outra pessoa. Um abraço de compreensão, daqueles que te dizem que tudo passa, e que são apenas dias ruins, e não pro resto dos tempos. Um abraço de uma tarde inteira. Um abraço pra vida toda.

Arrepiou-se. Lembrou-se num lapso de sua memória boicotadora que havia sim algo no mundo que a fizesse saber que o cinza de derrota dos dias não era tão incompreensível assim, e que aliás, era entendivelmente simples. Complexo, porém tão simples quanto a afirmação de que 2 mais 2 são 22.

Hesitou. E permitiu-se concluir que não era mais verdade que não havia sequer uma pessoa no mundo capaz de a entender. Tudo bem que ao longo dos anos, tanta e tanta gente foi embora e foi mandada embora justamente por não fazer idéia do que se passava dentro da sua cabeça. Não gostava de explicar. Ou sente, ou não sente. Mas dessa vez não precisava explicar-se, e isso a extasiava. Não precisava explicar-se!

Não precisava dizer quanto aquele dia doía. Quantos medos tem guardado dentro do armário. Quantas idéias se passavam por minuto em sua cabeça, e principalmente, não precisava explicar que nenhuma delas prestava. Alguém no mundo sabia disso. Alguém no mundo sabia, e não a considerava o pior dos piores por causa disso.

Sentiu-se humana. Sentiu-se maravilhosamente humana. Sentou na cama, e pediu perdão bem baixinho pela injustiça que cometera. Quem sabe esse perdão chegue aos ouvidos, quem sabe. Mas perdão a gente pede com gestos, e não com palavras.

Sentiu-se viva novamente. Sentiu-se compreendida, e isso era tudo que precisava. Por quanto tempo poderá sentir-se assim, acolhida? Pergunta impossível de ser respondida, seja por quem for. Mas, decidiu que preocupar-se com isso seria não viver o dadivoso presente.

Fechou os olhos, deu o melhor sorriso que o dia lhe permitiu. Resolveu enfrentar a vida, pelo menos por hoje. Se o amanhã lhe trouxesse igual sentimento de compreensão, conseguiria preencher seu livro da vida. Afinal, é preciso preencher as páginas em branco com algo, e cansou de derrotas.

Sabia que não estava sozinha. E, assim, se deu conta de toda a magnitudade da vida. 

domingo, 8 de maio de 2011

Quando me vi tendo de viver comigo apenas e com o mundo,

você me veio como um sonho bom.

E me assustei.

Não sou perfeito.