segunda-feira, 11 de abril de 2011

Os primeiros raios de sol chegavam nada discretos.
Com a cortina aberta, e os olhos semi-abertos, aquele clarão do sol nascendo ameaçava cegar qualquer um que ousasse manter os olhos abertos, e é exatamente por isso que tinha o triplo de dificuldade para aceitar o fato de que precisava acordar. Abrir os olhos pro mundo é doloroso. Nesse caso, também literalmente.

O caminho entre o acordar e o sentar na cama é um dos mais tenebrosos do dia. 
Primeiros pensamentos. Aqueles que dão o tom de todas as horas que se seguirão.
Todo dia era assim: acordava; com muito custo abria os olhos. Com muito mais custo, sentava na cama, e enquanto sentava lentamente, pensava: merda, merda, mais um dia. Por que? Até quando?

Sair da cama é um ato bravo.
Depois de percorrer mentalmente e lamuriosamente todo o caminho que enfrentará no dia, ainda assim ter forças pra sair da cama não é tarefa pequena.
Só os bravos vencem essa batalha diária.

E não é questão de pessimismo ou otimismo.
Longe disso. 
É estatística.

Viver o dia não é tão doloroso quanto parece nos primeiros momentos.
Acho que nenhuma dor é tão terrível na teoria quanto na prática.
Pensar no que pode ser é terrivelmente pior.

Esse medo de ter medo de ter medo é paralisante.
Se toda dor vem do desejo de não sentir dor, o caminho é sentir a dor e ignorar seu incômodo, ou procurar um meio de não sentir?
Há um abismo entre o sentir e o não sentir. Entre o resolver, e o ignorar.

E eu não sei se engavetar é a melhor opção.
Pois em tempos de mudança, é preciso abrir todas as gavetas, e resolver o que fazer com elas.
Estou abrindo minhas gavetas.

Não seria justo comigo mesmo ignorar tanta coisa que guardei.
Coisas boas e, em sua maioria, ruins.
Elas são o que sou. Se não olho para elas, como posso ser eu mesmo?
Não tem como ignorar o livro dos dias.

Como posso seguir em frente, se tudo que se oferece para fazer parte da minha vida,
ofereço em troca uma resposta pronta: já tenho isso, em alguma gaveta. Vá embora.
Ou então: já tive isto, e guardei longe dos meus olhos por não saber lidar. Não volte mais, portanto.

Quero que tudo fique comigo até quando for necessário ficar.
Mas que eu saiba deixar as coisas partirem de mim, me deixarem..
Quero poder não deixar o velho atrapalhar o novo.
Afinal, é mentira quem diz que só se vive uma vez só.
Estamos vivendo, tantas e tantas vezes num mesmo dia.

Cada palavra é um sopro de vida.

E sei que essa tristeza de todos os dias, às vezes maior, às vezes menor,
é o reflexo de tudo que está guardado no nosso armário, e que carregamos conosco pelas ruas e pelas conversas. 
Rotulamos o dia, rotulamos a vida.
Quem nos deu esse direito?

Viver nas entrelinhas, vale a pena?

Engano.
Grande engano.

Quem sabe abrir os olhos pro mundo não seja tão terrível assim, quando as gavetas não estão cheias.
Aí que mora o perigo: estatísticas são confiáveis?

Malditas estatísticas.

3 comentários:

  1. Levantar todos os dias e ter a audácia de ir para o mundo lá fora, totalmente bruto e voraz, exige um motivo. E é bom que esse motivo seja minimamente nobre.
    O medo é uma linha que separa o mundo, el miedo es una casa donde nadie va, la la la.
    Talvez seja mais fácil manter-se ocupada com seus motivos nobres para viver o dia do que prestar atenção neles. Porque, honestamente, eles nunca vão acabar. Eles sempre mudarão de forma. Quando se é criança, você tem medo do bicho papão, de ficar sozinho. Quando se é adolescente, você tem medo de não conseguir ser aceito e de ficar rotulado por algo que você não gostaria. Quando se é adulto, você tem medo de perder o emprego, de não conseguir casar e ter filhos, de não conseguir atender às exigência de todos os insuportáveis que te rodeiam. E quando se é velho, você tem medo de definhar, morrer de forma indgna, ser esquecido e desvalorizado, tem medo de perder a memória e a autonomia.
    A vida é um medão só.
    Então, resolver as histórias que você carrega no passado e no presente, será que adiantam? Sei não, porque não acredito que todas as experiências te preparem para os medos que ainda virão.
    Medos não se resolvem, são contornados?
    Sei lá.
    Esse comment se autodestruirá em 5 segundos. Pelo bem comum.
    Bjos.

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  2. LOSTAO o____O


    A vida é como uma selva: todos os dias vc tem que lutar para sobreviver a tudo e todos.

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  3. Cá, vou ter que discordar em partes de ti. Concordo que a vida é um medão só! Mas... tem medos e medos. Tem os medos que naturalmente por conta dos mistérios da vida, e tem medos programados por nossa carga emocional, carga de vida.

    Sei que é impossível viver sem medo algum.
    Mas sei também que é impossível viver com certos medos. São incapacitantes, destrutivos e desesperadores.

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