quinta-feira, 28 de julho de 2011

Por enquanto


Não era uma noite de outono, apesar do vento estar suficientemente cortante e gélido.
De sua janela, apreciava a paisagem grotesca que via: muros, cercas, lixo, a casa abandonada em frente à sua. Nada, nenhum sinal de vida; nem lá fora, nem aqui dentro.
Era como se, de repente, o mundo estivesse da forma que sempre o vira, mas que não conseguia provar a ninguém, exceto a si mesma, que essa visão era de fato verídica. Tudo era um grande e imponente vazio.

O som do relógio se fazia presente o dia todo, avisando com seu ar de vitória que mais um dia havia se passado, com suas tantas e tantas horas, e que eu nada havia feito com elas. As horas, todas elas, estavam tão vazias quanto a rua lá fora.
Abriu um pouco a janela, e mal pode suportar as primeiras rajadas de vento que adentraram. Eram exasperadamente congelantes, paralisantes. Pegou seu casaco, não muito grande, e decidiu sair.

As casas e suas arquiteturas lhe chamavam bastante a atenção. Sempre imaginava que tipo de pessoa usaria aquele tipo de janela, teria aquele tipo de carro e pintaria sua casa daquela cor. Imaginava o que se passava dentro de tantas casas nesse exato momento. Apesar da rua estar deserta, sabia que havia vida escondida por detrás dos tijolos.

Tanta vida, tantas possibilidades. Tanto tempo.
Será que sou só eu que não sei o que fazer com as horas?

Andava desapressadamente, apesar do frio, e pensava em qual rumo tomar, à medida que virava a esquina. Se preencher as horas fosse tarefa fácil como dobrar esquinas, certamente escolher não seria tão doloroso. Se voltar no tempo fosse possível, decidir seria banal.
Se passa tanto tempo pensando em o que fazer com o próprio tempo que está se esvaindo nesse exato segundo. Um desperdício, sabia disso.

Enquanto as horas passam devagar, os pensamentos voam velozes, mas não deixam nenhuma concretude.
O vazio se faz presente em quase todas as horas. 
Mas por enquanto. Apenas por enquanto. 
Prometeu a si mesma, e pôs-se a andar.


A única coisa concreta, pelo menos naquele momento, era o vazio da rua e o silêncio da noite. E tantas, tantas histórias - presentes e também possíveis - por detrás dos tijolos.





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