quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

aprendendo a voar

Preso no próprio corpo, preso pelas paredes, pela cidade.
Todo mundo espera algo dele.
Espera por todo mundo, e vive sentado esperando.
É tanta vida correndo, e ele está parado. Parando.
Tudo que se faz tem um preço,
e nenhum preço é justo.

Ele vivia. Respirava sem pressa.
Aproveita o que a vida lhe oferecia, com qualquer desleixo daqueles que
tem plena certeza de que a vida está apenas começando. Dia após dia.
Quanto engano.
E eram tantas ofertas, tanta gente e lugares,
tantas portas e pernas abertas, que se perdia.
Tudo parecia tão fácil e tão possível de se ter
que não tinha nada que de fato chamasse seu.
Tudo era tão volátil. Tão passageiro.
Tudo passou.
O que tinha, já perdeu.
O nunca teve, já se foi.
O que virá?

Resta a dúvida do amanhã.
Quem sabe o amanhã não seja assim tão duvidoso.
O hoje, do amanhã, pistas nos dá.
De que nem tudo que vem são pedras
De que nem tudo que vai são flores.

Sem ter como nem porque correr, permanece cá, sem pressa, mas com urgência.
Viver é urgente. Achar-se dentro de tanta vida e tanta morte é urgente.
Partes mortas de nós, partes que nascem em nós todo dia.
Todo dia contém um adeus e também contém as boas vindas ao novo.

Já não sorri com os mesmos lábios alegres e superficialmente abertos de outrora.
Já não chora tanto quanto antes, de desespero.
Já não se descabela, não apela, também não roga.
Não joga mais sua vida todo dia pela janela.

Ainda sente, sentir é pra sempre.
Mas sentimentos mudam, ah como mudam.
Ele mudou.
Ouso dizer que desabrochou.
Aos poucos, solta-se de si mesmo e de tudo que pensava ser.
Descobrindo a liberdade da escolha. Escolhendo a liberdade.

Sua vida já não tem mais aquele empolgante vazio. Aquela impulsiva superficialidade.
Tudo antes era um estardalhoso e grande vazio.
Percebeu que prefere a calmaria dos dias plenos. Plenos de vida, de vontades, de certezas e de sinceridade.
A plenitude não é quantitativa. É qualitativa.
E deve ser sentida, degustada, em cada letra, cada gota, cada dia.
A plenitude foi feita pra ser apreciada como um dia de céu azul, lindamente simples.

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